Home SinjorBA Contradição em Foco: Saúde Mental entre a Pauta e a Prática na Rede Bahia

Contradição em Foco: Saúde Mental entre a Pauta e a Prática na Rede Bahia

por Fernanda Gama

A situação que envolve as demissões de jornalistas da Rede Bahia, em especial os casos de Adriana Oliveira e Joyce Guirra que, conforme relatos, teriam sido desligadas, respectivamente, em meio ao quadro de doença ocupacional e luto da perda gestacional, expõe uma profunda e delicada contradição entre o discurso público de uma grande empresa de comunicação e suas práticas internas.

Enquanto a TV Bahia dedica seu espaço nobre para produzir e veicular séries de reportagens sobre a importância da saúde mental no trabalho, os bastidores da própria organização parecem narrar uma história de vulnerabilidade e fragilidade para seus colaboradores, em especial os jornalistas, categoria notoriamente submetida a altos níveis de pressão e estresse.

O jornalismo tem o poder e a responsabilidade de ser o espelho da sociedade, iluminando problemas e promovendo debates cruciais, como a crise da saúde mental. No entanto, o relato de demissões que atingem profissionais com diagnóstico de doenças relacionadas ao trabalho projeta uma imagem de desrespeito e incoerência institucional.

Risco da Hipocrisia

A demissão de profissionais em situação de luto ou adoecimento, especialmente quando este é reconhecidamente ocupacional, é legalmente sensível e, no campo ético, é vista como um ato de grande insensibilidade. Essa ação cria uma dissociação crítica entre a mensagem socialmente responsável que a emissora veicula e o ambiente que cultiva em sua própria redação (o contexto das demissões).

As demissões constrangedoras, sobretudo as que envolvem a saída de jornalistas com longos anos de serviço, somam-se a um histórico mais amplo de denúncias de assédio moral e racismo que já atingiram a Rede Bahia, conforme já relatado e sabido. Tais relatos sugerem um ambiente de trabalho adoecedor, onde a pressão por resultados e a insegurança podem ser fatores de risco psicossociais, culminando em doenças. Os profissionais acometidos deveriam ser protegidos e não penalizados.

Para a Rede Bahia, a manutenção de um padrão de desligamento visto como insensível ou legalmente questionável representa um alto custo reputacional, corroendo a credibilidade do próprio conteúdo que produz. A reportagem sobre saúde mental perde força e autenticidade quando a realidade interna da empresa parece ignorar a urgência da questão.

Em um momento em que a legislação trabalhista brasileira caminha para dar maior proteção aos riscos psicossociais, a atitude de desligar profissionais em quadros de doença que, muitas vezes, é resultado direto do ambiente de trabalho, configura um revés à responsabilidade social e um alerta sobre a necessidade urgente das grandes corporações alinharem seu discurso público com práticas internas de gestão de pessoas, saúde e segurança no trabalho.

A Rede Bahia, ao buscar informar e conscientizar o público, é lembrada que a verdadeira liderança no tema exige o exemplo interno, transformando o ambiente de trabalho em um lugar onde a saúde mental dos seus próprios profissionais é, de fato, uma prioridade e não apenas uma pauta.