Dois jornalistas do Correio foram demitidos nos últimos dias. A coincidência entre os dois: ambos não assinaram a redução de salário e jornada implementada pela empresa no mês de abril. Amparada na MP 936, publicada dia 1º de abril passado pelo governo Bolsonaro o jornal atropelou seus empregados, não aceitou negociar com o Sinjorba e, ao final, ainda puniu quem não aceitou sua proposta.
Em 3 de abril, apenas dois dias após publicada a MP, o Correio comunicou aos jornalistas que faria a redução linear de salário e jornada em 25%. No mesmo dia o Sinjorba enviou ofício à empresa pedindo que a medida fosse suspensa e as partes sentassem para negociar alternativas que evitassem a aplicação da Medida Provisória.
O pleito foi feito porque mesmo percebendo 25% do seguro-desemprego para compensar a redução salarial feita pela empresa, o trabalhador pode sair perdendo. Todos aqueles que percebem salários maiores que R$ 1.670,00 perdem algum valor. No caso do Correio, os colegas amargam perdas que vão de R$ 300,00 (repórteres com menores salários) a R$ 800,00 (gestores da redação).
Também no mesmo dia 03 de abril, documento de um grupo de jornalistas – assinado em nome dos colegas pelos dois diretores do Sindicato que são funcionários do Correio (Carmen Vasconcelos e Arisson Marinho) -, foi encaminhado à Chefia de Redação e ao setor de RH da empresa pedindo explicações sobre uma série de pontos do comunicado que não estavam claros.
Prática antissindical
O Correio respondeu ao documento da Redação, mas ignorou o ofício do Sindicato. Somente três semanas depois, após novo email enviado ao RH, a empresa retornou, alegando que não nos atendeu porque a MP não dava ao Sinjorba poder de intervenção nessa questão. Em novo ofício, reivindicamos que o jornal considerasse uma proposta de pagamento de abono salarial, para compensar as perdas sofridas por seus trabalhadores. No documento, a entidade elencou motivos que justificavam o pleito:
1) Os trabalhadores tiveram uma perda salarial que, considerando a faixa mínima praticada na empresa, foi de pelo menos R$ 300,00;
2) Os trabalhadores já acumularam perdas ao serem colocados em regime de home office, uma vez que deixaram de economizar com a refeição, à qual pagavam o percentual de 20% no refeitório da empresa, além de terem custos de energia ampliados em suas residências, vez que passaram a laborar em casa o tempo que antes trabalhavam nas dependências do Correio;
3) A empresa teve grande economia com a redução ocorrida, de pelo menos R$ 750,00 por trabalhador, considerando a faixa salarial mínima praticada pelo Correio;
4) A empresa já havia atingindo grande economia ao colocar os trabalhadores em home office no que diz respeito a gastos administrativos oriundos da manutenção da redação assim como vem fazendo economia de mais de R$ 400,00 (cálculos aproximados) por trabalhador, referente a sua parte nos custos de alimentação no refeitório.
Mas o Correio não somente negou o pleito, como logo na sequência mandou uma espécie de “aviso” à redação. “As duas demissões praticadas contra aqueles que não assinaram a redução é uma clara demonstração de retaliação a quem se insurgiu contra uma falsa livre negociação ocorrida entre a empresa e os jornalistas”, diz o presidente do Sinjorba, Moacy Neves. O sindicalista denuncia que não houve conversa e sequer os prazos determinados pela MP 936 foram respeitados. “O jornal enviou os documentos no dia 06, à noite e, no dia seguinte, pela manhã, as chefias já estavam pressionando os trabalhadores e cobrando o documento assinado”, diz ele.
Organização
Em momentos de crise, é possível perceber como é importante que os trabalhadores estejam organizados em torno de sua entidade sindical. Moacy diz que onde houve esta intermediação foi possível avançar. Ele cita o exemplo próximo do jornal A TARDE, onde a redução atingiu apenas oito jornalistas e foi conquistado um abono de R$ 150,00 para amenizar um pouco a perda salarial dos atingidos.
“Como a MP 936 garantiu todo poder ao patrão, nenhum direito ao empregado e pouca margem de manobra para a atuação dos sindicatos, a organização é que podia fazer a diferença”, afirma o presidente do Sinjorba. Ele conclui dizendo que, lamentavelmente, nesta crise, muitos empregadores se aproveitaram de nossa pouca força coletiva para impor acordos que traziam sacrifícios apenas aos jornalistas.
Correio demite funcionários que não assinaram redução de salário
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