A recente rodada de demissões na Rede Bahia, que incluiu nomes de peso e longa data na empresa, como Adriana Oliveira, Joyce Guirra, Bruno Pita, Roger Sarmento e João Mascarenhas expõe uma delicada e notável contradição entre o discurso institucional e a prática de gestão de pessoas. O fato desses desligamentos não terem seguido os princípios de humanização gerou um profundo mal-estar e um questionamento ético sobre a real prioridade do “valor humano” dentro da organização. Em um cenário de transformações econômicas e digitais no setor de mídia, a reestruturação (e, consequentemente, as demissões) é frequentemente vista como um mal necessário. No entanto, a crítica central não reside na decisão em si, mas no método empregado.
Profissionais com mais de 20 anos de casa representam a memória institucional, a expertise e a consolidação da marca. O desligamento impessoal e abrupto, especialmente em véspera de períodos festivos como o Natal, desconsidera essa lealdade histórica, tratando a contribuição de décadas de forma puramente transacional e descartável.
Uma empresa de comunicação que atua como veículo de informação e formadora de opinião tem a responsabilidade ética de ser coerente. Quando a empresa veicula a importância do capital humano e da saúde mental (como em suas pautas), mas desliga colaboradores em situações de vulnerabilidade ou após um burnout (como foi o caso de Adriana Oliveira) ou do repórter cinematográfico João Mascarenhas (demitido na TV SUBAÉ, há anos sofrendo com problemas de coluna por causa do peso da câmera), projeta uma imagem de hipocrisia institucional. Isso mina a credibilidade interna e externa.
Desumanização sistêmica
O mal-estar profundo entre os funcionários que permaneceram é um sintoma da falha em gerenciar a crise de forma humanizada. Desligamentos desumanizados têm um custo cultural e de marca altíssimo, a exemplo da deterioração da marca . Na verdade, a maneira como uma empresa demite é o teste de fogo de sua cultura. Desligamentos mal conduzidos destroem a reputação da Rede Bahia como um bom lugar para trabalhar, dificultando a atração e retenção de talentos qualificados no futuro. Ninguém deseja ser o próximo a ser tratado com frieza após anos de dedicação.
O medo e a insegurança se instalam na equipe remanescente. Os colaboradores passam a questionar sua própria estabilidade e o valor de sua lealdade. Considerando, em contexto discursivo, que uma empresa, sob seu direito, esteja focada em seus lucros, onde está o olhar estratégico acerca do resultado técnico, que capitaliza produtos de sua marca, diante de equipes desgastadas e com potenciais riscos de terem sua saúde emocional afetada?
É válido considerar que a Norma Regulamentadora número 1, estabelecida pelo Ministério do Trabalho e Emprego, é uma base que discorre sobre condições seguras e saudáveis a funcionários, portanto incidente sobre a responsabilidade legal, não apenas moral, dos empregadores.
Especificamente olhando para o funcionário no exercício de sua função em um ambiente inseguro, a energia que deveria ser dedicada à produção jornalística de qualidade é desviada para a ansiedade e a busca por planos B.
Em essência, a gestão de crise do grupo Rede Bahia falhou ao priorizar a velocidade do corte sobre a dignidade do ser humano. O profissionalismo, em um desligamento, deve ser acompanhado pela empatia. Ao contrário, o que se observa é o abandono da premissa de que toda a cultura da empresa é definida por como ela trata seus colaboradores em seus piores momentos.
Em conclusão, a reestruturação econômica é uma realidade, mas a perda da humanidade no processo é uma escolha gerencial. As demissões na Rede Bahia servem como um exemplo crítico de como a falta de transparência e de respeito na comunicação final podem anular anos de construção de uma marca, deixando um legado de insegurança e amargura.



