A Federação Nacional dos Jornalistas contabilizou 376 ataques à liberdade de imprensa em 2022. O número, apesar de menor do que o registrado em 2021 (430), estabiliza-se em patamar elevado, após ter registrado crescimento de 54,07% em 2019 e 105,77% em 2020. O crescimento coincidiu com a ascensão de Jair Bolsonaro à Presidência da República.
A Descredibilização da Imprensa, uma estratégia adotada pelo governo Bolsonaro, voltou a ser a violência mais frequente em 2022, apesar de ter diminuído em comparação com o ano anterior. Foram 87 casos de ataques genéricos e generalizados, que buscaram desqualificar a informação jornalística. Em 2021, foram 131 episódios, portanto, houve uma queda de 33,59%.
Porém, houve um crescimento de 133,33% nas ocorrências de Ameaças/Hostilizações/Intimidações, que foi a segunda categoria com maior número de ocorrências em 2022, com 77 casos (44 a mais que os 33 casos registrados em 2021).
O ex-presidente Jair Bolsonaro, assim como nos três anos anteriores, foi o principal agressor. Sozinho, ele foi responsável por 104 casos (27,66% do total), sendo 80 episódios de Descredibilização da Imprensa e 24 agressões diretas a jornalistas (10 agressões verbais e 14 hostilizações).
Na apresentação do relatório, a Fenaj afirma que “seguramente, durante o ciclo de Bolsonaro na Presidência, houve uma institucionalização da violência contra jornalistas, por meio de uma prática governamental sistemática de descredibilizar a imprensa e atacar seus profissionais”. A entidade ressalta que, nos quatro anos do seu mandato, o presidente foi o principal agressor e ainda incentivou seus apoiadores a também se tornarem agressores. “De 2019 a 2022, Bolsonaro realizou 570 ataques a veículos de comunicação e aos jornalistas, numa média 142,5 agressões por ano; um ataque a cada dois dias e meio”, diz no relatório a Federação.
Assassinatos
A Fenaj destacou no relatório os assassinatos do jornalista britânico Dom Phillips e do comunicador popular, Gigi Oliveira. Dom foi morto numa emboscada, junto com o indigenista Bruno Pereira, em Atalaia do Norte (AM). O assassinato de Gigi, ocorrido em Fortaleza-CE, está registrado, mas não foi somado ao número de agressões contra jornalistas, porque ele não pertencia à categoria.
Bahia
A Bahia respondeu por 4,88% dos casos registrados pela Fenaj, com 14 ocorrências. O presidente do Sinjorba, Moacy Neves, avalia, entretanto, que o número pode ser maior, pois há muitos registros que não chegam ao Sindicato. “Há uma tendência de os profissionais não relatarem as ocorrências com medo de o problema crescer ou de sofrerem retaliação na própria empresa onde trabalham”, diz ele.
O Sinjorba diz que cabe às autoridades policiais, ao Ministério Público e ao Judiciário coibirem, denunciarem e punirem os agressores. Moacy cita muitos casos envolvendo seguidores de Jair Bolsonaro, que foram simplesmente ignorados pela Polícia Militar em muitos estados. “Em Belo Horizonte-MG, no dia 6 de janeiro, quando da desmontagem de um acampamento em frente a um quartel do Exército ou em Brasília-DF, no dia 8, policiais militares assistiram às agressões a profissionais de imprensa sem interferirem”, afirma.
Moacy diz que, junto com a ABI-Bahia, o Sindicato vai promover uma reunião com diversas instituições e organizações – OAB, SSP, PM-BA, MPE, PMF, MPT, Defensoria Pública, ALBA (Comissão Direitos Humanos), entidades patronais – para discutir o que cada envolvido pode fazer quando ocorrerem casos de violência e agressão, além de estabelecer formas de acompanhamento para prevenir ocorrências e punir os agressores.
Confira a íntegra do Relatório da Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil – 2022, divulgado nesta quarta-feira (25) pela Fenaj.