Home SinjorBA Israel bombardeia tenda de jornalistas em Gaza após encontro virtual com a FENAJ e profissionais brasileiros

Israel bombardeia tenda de jornalistas em Gaza após encontro virtual com a FENAJ e profissionais brasileiros

por Fernanda Gama

Imagine a possibilidade de realizar uma cobertura jornalística sobre uma guerra a 500 metros de onde tanques de guerra ameaçam o espaço físico e a integridade dos profissionais de imprensa. Agora, imagine que, quando a jornada de trabalho terminar, o profissional precisará conseguir comida para si e para os seus, fugir dos ataques, garantir onde dormir, se proteger e proteger aos próprios familiares. Essas imagens não fazem parte de um filme de ficção, mas integram o cotidiano dos profissionais palestinos que estão na Faixa de Gaza.

Na manhã desta quinta-feira (25), jornalistas palestinos participaram de uma roda de conversa online com a direção da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) e cerca de 50 profissionais da imprensa brasileira. O encontro, promovido em parceria com a Embaixada da Palestina no Brasil, teve como objetivo denunciar a escalada da violência contra comunicadores em Gaza.

Meia hora após o término da reunião, a tenda de onde parte dos jornalistas falou foi bombardeada por forças israelenses, segundo relato do presidente do Sindicato dos Jornalistas Palestinos (PJS), Naser Abu Baker, ao embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben. O local funcionava como Centro de Solidariedade de Jornalistas em Gaza e abrigava pelo menos 20 profissionais. Informações preliminares indicam que os participantes conseguiram escapar.

Relatos de risco constante

Durante o encontro, jornalistas palestinos relataram a rotina de medo e deslocamentos frequentes em busca de segurança. Mohammd al Sayyad, do jornal al Arabiya Alhadath, contou que diariamente se despede da família sem saber se voltará vivo. Já Mustafa al Bayed, correspondente do canal ART (Rússia), afirmou que a tenda onde estavam reunidos poderia ser atacada a qualquer momento — o que acabou acontecendo pouco depois. “Estamos pagando com a vida o preço de transmitir a verdade ao mundo”, afirmou Fidaa Asaliya, que também estava na tenda. Segundo ela, a ocupação “não distingue jornalista, cidadão ou membro da resistência”.

Casas destruídas e deslocamentos forçados fazem parte do cotidiano desses profissionais. Samir Khalifa relatou ter sido obrigado a mudar de endereço 18 vezes em menos de dois anos de ataques.

Números alarmantes

Dados apresentados pelo PJS revelam a gravidade da situação:
302 jornalistas mortos (252 em Gaza e 50 na Cisjordânia, sendo 34 mulheres)
400 feridos
200 presos
270 expulsos da Faixa de Gaza
600 familiares de jornalistas mortos
647 casas de profissionais destruídas
1.600 deslocados
120 sedes de órgãos de imprensa bombardeadas
3.400 jornalistas estrangeiros proibidos de entrar em Gaza

Para Naser Abu Baker, a ofensiva contra jornalistas busca “assassinar a verdade” e impedir que o mundo saiba da realidade em Gaza.


Solidariedade internacional

A presidenta da FENAJ, Samira de Castro destacou que a reunião tinha como propósito “dar voz a colegas palestinos brutalmente assassinados ou ameaçados pelo simples ato de informar”. Ela lamentou que o ataque tenha ocorrido logo após a transmissão, interpretando o fato como uma tentativa de silenciamento.

A FENAJ reforçou seu apoio ao povo palestino e defendeu, junto à Federação Internacional de Jornalistas (FIJ), a realização de um dia mundial de luta, com paralisação simbólica das redações, em homenagem aos profissionais mortos.

O Sinjorba esteve presente no encontro através da presidenta Fernanda Gama e dos diretores Carmen Vasconcelos, Marjorie Moura e Moacy Neves.