O Sinjorba e a Fenaj receberam um vídeo, publicado nas redes sociais pelo deputado federal Waldenor, candidato a prefeito de Vitória da Conquista, no qual sua campanha compara a abertura de uma matéria em um telejornal da TV Sudoeste, quando a colega jornalista Daniella Oliveira era apresentadora, com uma fala da profissional, atual, como âncora do programa eleitoral da candidata opositora, Sheila Lemos. (Clique AQUI).
A cobrança é descabida, injusta e fora de lugar. Chega a ser até infantil, a desconfiar se é mesmo feita por profissional de marketing político com alguma competência. E por dois motivos bem simples. Daniella não é candidata e está, como âncora, fazendo o que qualquer trabalhador faz para sobreviver: vendendo sua força de trabalho. De boa, foi um tiro no pé.
Quando um jornalista ou uma jornalista, ancorando um telejornal, abre uma matéria, não está ali reproduzindo sua opinião pessoal. Da mesma forma, quando ancora uma campanha política, também não está professando suas preferências ideológicas. Tanto o é que Daniella trabalhou, em 1996, na campanha de Guilherme Menezes, correligionário de Waldenor.
Diferente do que muitas pessoas pensam, o jornalista é um trabalhador como qualquer outro. No exercício da função está vendendo o que sabe fazer para sobreviver. São poucos os profissionais da área que estão no topo de altos vencimentos. A ampla maioria, quase a totalidade, “rala” todos os dias para ganhar um salário com o qual possa sobreviver e sustentar sua família. E como o mercado de comunicação vive grave crise, com muito desemprego e baixos vencimentos, as campanhas políticas, de dois em dois anos, são uma forma de correr atrás desse ganha pão.
O debate político-eleitoral tem se adaptado ao reducionismo das redes sociais, eleição após eleição, se rendido à supremacia do meme em detrimento da apresentação de propostas e da discussão das diferentes visões de gestão pública. A lacração é o que interessa para derrubar o oponente e gerar likes nas redes sociais. E no meio disso tudo está o jornalismo e os jornalistas que, para muitos representantes partidários, são os culpados pela sua falta de conteúdo a apresentar ao eleitor.
Foi assim em 2020 quando a campanha do prefeito Herzem Gusmão, hoje falecido, atacou a jornalista Indhira Almeida, que ancorava o programa eleitoral do adversário José Raimundo, chamando-a de mentirosa. Na época (clique aqui), o Sinjorba e a Fenaj se posicionaram sobre aquela forma desesperada de ganhar voto, que elegeu uma mulher trabalhadora como alvo:
“Indhira, como apresentadora do programa do candidato José Raimundo, adversário do atual prefeito, está exercendo sua profissão, como qualquer outro apresentador de qualquer outra campanha política. Ao atacar individualmente a jornalista pelo conteúdo da mensagem levada ao ar durante a propaganda eleitoral gratuita, a campanha do candidato Herzem Gusmão cometeu um ato injusto, irresponsável, mesquinho e covarde. Postura que também revela incapacidade.
Injusto porque ela não expressou opinião pessoal. Irresponsável porque expõe a profissional que está trabalhando. Mesquinho porque atira contra o elo mais fraco nessa disputa política. Covarde porque aproveita-se do fato de ser uma mulher no vídeo, taxada vergonhosamente de mentirosa por fatos que ela não inventou. E incapaz, o único adjetivo que encontramos para qualificar quem não consegue distinguir discurso militante de locução profissional.”
É uma pena que passados quatro anos nada tenha mudado e o fato tenha se repetido, a nos lembrar do tamanho da nossa tragédia. O debate político continua injusto, irresponsável, mesquinho, covarde e incapaz para com os e as jornalistas.