Foi registrado na Ouvidoria do Estado, na sexta (02), mais uma denúncia de assédio moral contra o diretor da TV, Rádio e Ascom da UESB, de um servidor que há 23 anos exerce suas funções na instituição. A queixa se soma a outras já existentes, o que vai dando a este setor da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia a imagem de uma fábrica de perseguições trabalhistas.
De acordo com a denúncia, a perseguição começou há cerca de 5 anos, após uma seleção para estágio em uma outra empresa de comunicação. O funcionário que fez a denúncia disse que ao indicar uma estudante do curso de Jornalismo da UESB para participar do processo seletivo, por ter se destacado na disciplina de Telejornalismo, foi procurado pelo professor Rubens Sampaio, na época diretor do Colegiado do curso de Comunicação, que contestou a indicação. Segundo o acusado, a estudante indicada era uma menina “problemática” e iria ser um transtorno ao possível estágio, caso fosse aprovada. Assim, solicitou que o funcionário desfizesse a indicação.
Tal tentativa foi em vão. A estudante participou e foi aprovada na seleção. Esse fato deu início, de acordo com o relato, a uma série de episódios que configuram perseguição e assédio moral. “O professor chegou a dizer que se ele indicou a pessoa errada é porque estava contra ele”, relatou.
Nesse meio tempo, o senhor Rubens Sampaio deixou o Colegiado e assumiu a Assessoria de Comunicação da UESB/SURTE. Isso não impediu que o funcionário em questão fosse transferido para uma empresa terceirizada que cuida dos serviços agropecuários da UESB, com a função de Tratador de Animais, ganhando um salário mínimo, metade do que ganhava anteriormente.
Veio a pandemia do Covid-19 e nem assim a perseguição parou. O servidor afirma que enquanto os laboratórios e as atividades da UESB foram suspensas e as pessoas do grupo de risco foram liberadas para ficar em casa ou trabalhar de forma remota, a regra não lhe foi aplicada, ainda que ele fosse diabético e hipertenso. Ao contrário do que deveria acontecer, o acusado solicitou que ele se apresentasse no SURTE e trabalhasse na edição e na reportagem, pois do contrário, não poderia “segurar o seu emprego”. O autor da queixa foi obrigado a se expor, mesmo sendo do grupo de risco.
Rosário de abusos
Em junho do ano passado o servidor afirma que foi novamente transferido de empresa terceirizada, sendo que na nova contratante passou a trabalhar aos sábados, o que não ocorria anteriormente.
“Falei com meu coordenador, que me deixasse onde eu estava”, declarou. Mas a solicitação foi negada por Rubens, que disse que se ele quisesse permanecer na UESB teria que fazer uma carta pedindo demissão da empresa onde estava, para ele poder ser recontratado pela nova empresa, desta vez como cinegrafista. Temendo perder o emprego, o funcionário se submeteu às exigências e perdeu todos os direitos trabalhistas, como os 40% do FGTS.
Insatisfeito com a recusa inicial, o funcionário foi informado pelo coordenador do Colegiado que Rubens havia pedido sua demissão, desconsiderando o fato de trabalhar ali há mais de 23 anos, sem nenhuma reclamação. Como não havia justificativa para a dispensa, tal hipótese foi descartada. Trata-se de um funcionário muito bem avaliado pelos outros professores.
Depois de anos de perseguições, após um último episódio, o servidor resolveu fazer a denúncia na Ouvidoria. Ele percebeu um desconto no salário por falta, atribuída por ele deixar de registrar a saída do setor em um dia. “Registrei a entrada às 07h15, mas por esquecimento ou defeito do relógio de ponto, não registrei a saída. Então fui até o SURTE conversar com Cintia Garcia, que se recusou a reconsiderar e a justificar a situação junto à terceirizada”, desabafou. Disse ainda que uma outra pessoa que estava ao lado de Cintia, afirmando ser advogada, disse que a empresa agiu certo em cortar seu dia.
“Trabalho na UESB há mais de 23 anos e sempre fui tratado com respeito e respeitava a todos, sempre cumprindo com minhas obrigações, mas depois da indicação da estudante, começou essa perseguição do professor Rubens e sua subordinada, Cintia Garcia, a minha pessoa, que não tem fim. Estou registrando isso, sei que serei dispensado, mas pelo menos não vou passar mais por humilhação e perseguição e vou poder cuidar da minha saúde, que segundo os médicos, depois de pedir alguns exames, os resultados deram todos alterados, como resultado do estresse passado”, desabafou a vítima.
Providências
Nos últimos dias, vítimas e testemunhas passaram a sofrer abordagens desrespeitosas e outras formas de pressão dos acusados de assédio e indicados a processo administrativo pela Sindicância. O Sindicato tem conhecimento de que o clima de trabalho na TV, Rádio e Ascom da UESB é péssimo, com gestores usando da força dos cargos para intimidar os servidores.
Esta nova denúncia será levada ao MPT e outras iniciativas serão tomadas. O presidente do Sinjorba, Moacy Neves, opina que a situação está fora de controle na UESB. “A Reitoria não tomou medidas emergenciais para frear o problema, mostrando, no mínimo, não entender a gravidade da situação”, denuncia. Ele diz que essa falta de urgência na ação levou o Sindicato, em março, ao MPT e, agora, levará a entidade à Justiça estadual, pedindo providências contra a Instituição. “A Sindicância já indicou o caminho, é preciso uma decisão urgente para preservar as pessoas da ânsia persecutória e do comportamento diretivo ilegal e imoral que se instalou no setor de comunicação da UESB”, finaliza.