O centenário de nascimento do jornalista, professor e crítico literário Heron de Alencar (1921-1972) será lembrado pelo Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB), com uma live nesta terça (09), às 16h, no canal da organização no Youtube (youtube.com/ighbba). Heron foi um dos fundadores e primeiro presidente do Sindicato dos Jornalistas da Bahia (Sinjorba).
Participarão do evento as professoras Carla Patrícia de Santana, autora do livro “Heron de Alencar: Perfil Intelectual e Discurso Liiterário”, (Edufba, 2006), baseado em sua tese de doutorado, e Ana de Alencar, professora aposentada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e filha desse jornalista e intelectual cearense, que se radicou na Bahia. O evento será moderada pelo jornalista e pesquisador do IGHB, Jorge Ramos, que também foi presidente do Sinjorba.
Histórico
Heron de Alencar se destacou no Jornalismo a partir da década de 40 do século passado, no jornal “A Tarde”, onde exerceu os cargos de redator, editorialista e manteve a coluna Caleidoscópio, de crítica literária. Nessa época trabalhou com Anísio Teixeira, secretário de Educação no governo Octávio Mangabeira. Teve também um forte atuação política, tendo sido o coordenador na Bahia da campanha “O Petróleo é Nosso”. Mais tarde ele foi Redator do Jornal da Bahia, entre os anos 50 e 60.
Paralelamente ao exercício da atividade jornalística, Heron de Alencar teve uma atuação proeminente como professor universitário e ensaísta. Na Universidade Federal da Bahia (UFBa) foi Assessor Especial do Reitor Edgard Santos, um dos primeiros professores do Curso de Jornalismo – ensinou “Técnica do Jornalismo” – e ensinou também “Literatura Comparada na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Em 1954 foi para a França, onde na Universidade de Paris-Sorbonne foi aluno “leitor” e depois professor de “Literatura Portuguesa”. Além das atividades didáticas dirigiu o Instituto Luso- Brasileiro, mantido pela própria universidade francesa.
Em sua movimentada atividade acadêmica Heron de Alencar participou de inúmeros simpósios, congressos e conferências internacionais, tendo sido inclusive delegado brasileiro na Unesco, o órgão da ONU encarregado de Educação, Ciência e Cultura. Colaborou ainda com artigos, ensaios e verbetes sobre Literatura Brasileira em diversas publicações no Brasil e no exterior. Publicou vários livros : Literatura, um Conceito em Crise (1952), O Romance Moderno e a Contemporaneidade (1953), O Romance do Nordeste (1954), Aspectos de um Romancista (1955) e Universidade, Região e Alienação Cultural (1961).
Ao retornar para o Brasil, em 1961, Heron de Alencar apresentou, por um breve período, na recém-inaugurada TV Itapoan, o programa semanal “Clube de Debates”, no qual tratava de temas culturais, econômicos e políticos. Mas logo foi convidado por Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro para integrar a equipe que estava implantando a Universidade Nacional de Brasília (UnB). Ele trabalhou desde a fase de planejamento, ensinou Literatura Comparada, foi Vice-Reitor, na gestão de Darcy Ribeiro e coordenou a área de Pós-Graduação.
Quando irrompeu o golpe militar de 1964, Heron de Alencar era professor (licenciado) da UnB e Assessor Especial do governador de Pernambuco, Miguel Arraes, seu primo. Foi demitido sumariamente da UnB e seu nome constou das primeiras listas de cassados. Ameaçado de ser preso, foi obrigado a buscar asilo político para si e sua família, primeiro no México e depois na França. No exílio ensinou em universidades francesas e trabalhou com Oscar Niemeyer e Darcy Ribeiro na implantação de duas universidades na Argélia. Heron de Alencar adoeceu de câncer no cérebro, doença detectada ainda em Paris, e devido ao seu estado grave teve uma autorização dos militares para voltar ao Brasil. Chegou desenganado e em uma cadeira de rodas, poucas semanas antes de morrer numa clínica do Rio de Janeiro, em 1° de Janeiro de 1972, aos cinquenta anos.