Determinados momentos históricos exigem posições claras e firmes dos sujeitos políticos, sejam eles cidadãos(ãs), partidos, organizações ou entidades sociais. As eleições gerais de 2 de outubro representam mais que a escolha de novos dirigentes para o Brasil, seus estados e o Distrito Federal. Elas, assim como em 2018, colocam em oposição a democracia e o autoritarismo; o estado de Direito e as farsas judiciais; a busca pela justiça social e os privilégios; a defesa da vida e a necropolítica; a civilização e a barbárie. Ciente desta realidade complexa que vai além da disputa eleitoral, a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), entidade sindical máxima de representação da categoria, conclama os(as) jornalistas brasileiros(as) a honrarem sua profissão, que tem como missão levar informações à sociedade, pautando-se pela busca da verdade e pela estrita observância do interesse público no seu fazer profissional.
Podemos afirmar, sem medo de cairmos na exaltação, que o Jornalismo e os jornalistas têm papel ainda mais decisivo em momentos de crises (política, econômica, sanitária, ambiental e social) como as que atingem o Brasil e os(as) brasileiros(as). O fortalecimento da extrema direita e sua ascensão ao poder central em nosso país fortaleceu o movimento mundial de enfraquecimento das democracias liberais, por meio do aparelhamento das instituições, distorções de conceitos e da própria realidade, a partir da manipulação das informações, e disseminação do medo, como forma de controle social. O Jornalismo, por meio do relato e da análise dos fatos, é a ferramenta para chamar os(as) cidadãos(ãs) à racionalidade, contribuindo decisivamente para por fim aos discursos enganosos, à mentira como prática oficial de governos, à negação dos avanços civilizatórios (incluindo a ciência) e a perpetuação de preconceitos e das variadas formas de discriminação.
No passado recente, veículos de comunicação deixaram de cumprir seu papel e assim contribuíram para o país ter sua democracia, que nunca chegou a ser consolidada, fragilizada e com muitas fissuras. Em 2016, muitas empresas jornalísticas contribuíram para a efetivação do golpe que tirou a presidenta Dilma do Palácio do Planalto. E contribuíram não apenas por omissão, mas por ação deliberada, como as inúmeras chamadas para as manifestações pelo afastamento da presidenta. Depois veio o apoio da mídia à chamada Operação Lava Jato, o maior caso de “lawfare” da história. E, em 2018, veículos de mídia não se envergonharam em apontar “uma escolha difícil”, quando já se conhecia as práticas da extrema direita no mundo e o seu representante máximo no Brasil. Agiram como legítimos representantes das elites brasileiras, que sempre reagem a qualquer projeto que possa diminuir seus privilégios.
A poucos dias de novas eleições, em que mais uma vez a disputa real está entre a extrema direita e setores democráticos, representados por mais de um partido político, os(as) jornalistas têm o dever ético de buscar a verdade dos fatos e de apresentar essa verdade à sociedade. A extrema direita continua semeando a desinformação, o medo e o ódio, como tática eleitoral para assegurar o projeto em curso, que é de destruição da democracia e da soberania nacional. O Jornalismo, sem necessidade de apontar candidatos preferenciais, deve lançar luz onde se faz escuro, por meio da informação verdadeira. Os(as) jornalistas, por sua formação teórica e técnica, e principalmente por seu compromisso ético sabem como fazê-lo.
É pelo trabalho sério e comprometido que vários(as) jornalistas têm sido vítimas de violência. Os(as) agressores, certamente, não partilham valores democráticos, não respeitam as diferenças e acreditam que a violência é a forma de resolução dos conflitos. Mesmo que muitos não saibam (porque não conhecem a história nem o pensamento crítico), agem como os fascistas do passado e os neofascistas do presente.
Por isso, a FENAJ também se dirige à sociedade brasileira. Os(as) jornalistas têm deveres éticos e devem comprometer-se com a democracia. Mas é dever de todos os cidadãos e de todas as cidadãs a defesa da democracia e das instituições democráticas. Não existem sociedades verdadeiramente democráticas sem um Jornalismo diverso e plural e não existe Jornalismo sem jornalistas. Portanto, a categoria precisa do reconhecimento e do apoio da sociedade para realizar seu trabalho e para fazer frente aos mais diversos tipos de restrições à livre circulação da informação existentes, da concentração da propriedade dos meios de comunicação à violência, passando pela censura judicial.
A FENAJ reitera, mais uma vez, sua defesa intransigente da democracia, do Jornalismo e dos jornalistas.
A sociedade brasileira não pode prescindir do Jornalismo.
O Jornalismo não pode prescindir dos(as) jornalistas.
Os(as) jornalistas não podem prescindir da ética profissional e do compromisso com a verdade, com o interesse público e com a democracia.
Brasília, 26 de setembro de 2022.
Federação Nacional dos Jornalistas – FENAJ