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Para Clemente Lúcio, covid-19 ampliará crise no mercado de trabalho

por Fernanda Gama

Convidado do Sinjorba na webinar Encontros Digitais, realizada na última quarta (15), o sociólogo e professor Clemente Ganz Lúcio disse que o covid-19 vai ampliar a crise no mercado de trabalho no Brasil. Segundo ele, o Brasil desmontou nos últimos anos a sua base produtiva e agora, quando for a hora da retomada, vai ter dificuldade de reagir e recuperar os postos de trabalho.
“Antes dessa crise já enfrentávamos uma situação de muitos desempregados, avanço da precarização e subutilização de mão de obra; agora, temos uma perspectiva de uma taxa de desemprego de 18% a 25%, que vai durar por um logo tempo”, lamentou Clemente. Ele disse que esse cenário tende a se confirmar se o governo continuar sendo pouco ativo nas medidas que amenizem os problemas das empresas e dos trabalhadores. “Enquanto por aqui se fala em investir 7% do PIB para salvar a economia, na Alemanha, o governo anunciou um intervenção de 35% do PIB”, comparou.
Ex-diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Clemente estuda há muitos anos o comportamento do mercado de trabalho e disse durante a videoconferência que a tecnologia provocou enormes transformações no mundo do trabalho e que a partir dessa crise o uso dos recursos tecnológicos vai se acelerar. “Os trabalhadores e os sindicatos precisam estar preparados para entender as possibilidades que se abrirão, para que este ganho de produtividade que advirá se transforme, por exemplo, em avanços civilizatórios”, pregou.
Em sua fala, Clemente Lúcio citou, por exemplo, a possibilidade de surgimento de novas profissões e da necessidade dos sindicatos criarem novos protocolos de ação, organização e comunicação com suas bases. Ele também incentivou que sejamos ousados para garantir que o resultado da maior utilização de tecnologia não seja totalmente apropriado pelos donos do capital. “O ganho de produtividade nos permitirá reduzir a jornada de trabalho e promover uma reorganização social, de forma que todos tenham emprego e renda no mundo pós-coronavírus e possam usar mais seu tempo para estudar, praticar esporte e ficar com a família”, defendeu.
De uma maneira mais geral, o ex-diretor do Dieese apontou algumas questões que precisarão ser colocadas na ordem do dia pelas sociedades à luz do aprendizado que vai ser acumulado com esta crise. Ele listou a desmistificação da presença do estado na economia, a retomada da produção local de insumos e equipamentos que nos tornem menos dependentes da importação, a implementação de uma nova ordem tributária que desonerar o consumo de baixa renda e onerar os lucros e dividendos, apoio e incentivo às micros e pequenas empresas e a cooperativas de trabalhadores, maior investimento em transporte coletivo e mais atenção às mudanças climáticas.
Por fim, o sociólogo criticou o governo por continuar emitindo medidas provisórias e querer votar medidas anteriores à crise do covid-19, que precarizam as relações de trabalho e punem os trabalhadores, citando a MP 905 e alguns aspectos das MPs 927, 936 e 946.