Sem surpresa, mas com extrema preocupação, o Sindicato dos Jornalistas da Bahia (Sinjorba), a Associação Bahiana de Imprensa (ABI-Bahia) e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) tomaram conhecimento de uma postagem feita em rede social por um coronel reformado da Polícia Militar da Bahia, que investe contra o repórter Wendel de Novais, do jornal CORREIO.
Na postagem, o coronel reformado critica o repórter pela publicação de matéria no referido veículo. Com o título “Com 33 chacinas policiais, Salvador e RMS superam índices do Rio de Janeiro“, o texto trouxe números coletados pelo Instituto Fogo Cruzado, que mapeou as chacinas ocorridas em Salvador e Região Metropolitana em 2023. Segundo informa a matéria, a Organização Não Governamental diz que 33 das 48 ocorrências desta natureza foram em ações ou operações policiais.
Segundo o militar inativo, autor da postagem, usar o termo “chacina” seria uma tentativa de o jornalista desqualificar a Polícia Militar, um desrespeito aos policiais e encorajamento à criminalidade. Marcando a conta do repórter na rede social em seu post, portanto identificando-o aos seus seguidores, ele conclui colocando-se à disposição de Wendel para “conversar” sobre segurança pública.
Em nenhum momento o coronel reformado citou o Instituto Fogo Cruzado ou o jornal CORREIO, limitando-se a direcionar sua crítica ao lado mais fraco, o jornalista. Queremos crer que, autoproclamado conhecedor de segurança pública, falte ao militar conhecimento de como funcionam redações de jornais. Sem prejuízo do conteúdo da referida matéria, baseada em números e com fonte identificada, cabe esclarecer que o repórter não escolhe sua pauta, não tem a decisão final sobre a publicação do seu trabalho e nem comanda a linha editorial do veículo.
Instamos cuidado àqueles que se arvoram a falar por coletivos, especialmente em tema tão sensível como é segurança. Além, claro, de evitar se mostrar incoerente ao cobrar responsabilidade alheia ou atrever-se a insinuar que o profissional não usou as faculdades do pensamento antes de escrever. Cite-se, a postagem em questão rendeu vários comentários, entre os quais este que reproduzimos: “No caso de um pseudo-jornalista desses ser vítima de um menino de vó, seria tão bom a PM evitar seu trabalho pra que o número de “chacinas” diminuísse”. Fica o alerta.
Por fim, pedimos aos colegas da imprensa cuidado na repercussão de posturas de indignação como essa, especialmente em ano eleitoral, momento em que determinadas posições rendem muitos cliques em bolhas de internet, além de votos. Os dados dos relatórios da violência contra profissionais de imprensa entre 2019 e 2022, produzidos pela Fenaj, mostram bem o resultado de se dar palanque gratuito para discursos de ódio.
Este caso de Wendel de Novais será acompanhado no âmbito de Rede Agostinho Muniz de Combate à Violência contra Profissionais de Imprensa.