Um estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que as mulheres têm, em média, 22 horas de trabalho não remunerado, em casa, semanalmente, além das atividades remuneradas exercidas. Uma rotina desafiadora, quando comparada com a dos homens que têm 5 horas a menos de atividades domésticas.
Como se não bastasse, no Brasil, o acesso ao trabalho formal enfrenta barreiras culturais, sociais e educacionais, levando 39% do público feminino para a informalidade. Na Bahia, o percentual de mulheres que atuam sem carteira assinada é de 48%.
Os dados foram apresentados durante a participação da supervisora regional do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a economista Ana Georgina Dias, durante o “Março da Mulher Trabalhadora: igualdade salarial e assédio no trabalho”, evento promovido pela Superintendência Regional do Trabalho e Emprego na Bahia(SRTE).
Realizado na sede da Superintendência, no Comércio, na manhã desta quarta-feira (13), a atividade contou ainda com as participações da juíza do trabalho Adriana Manta e da professora Petilda Vazquez. A diretora Carmen Vasconcelos representou o Sinjorba e as mulheres jornalistas no encontro.
Entre as muitas reflexões que relacionam as questões de gênero ao universo do trabalho, Ana Georgina trouxe a discussão sobre a Lei 1085/23, que garante a isonomia e a equidade salarial entre homens e mulheres no exercício profissional. Para ela, apesar do avanço evidente, é preciso que as entidades sindicais atentem que igualdade salarial não é o mesmo que igualdade de remuneração, exigindo uma postura vigilante das entidades. “Essa é uma pegadinha cruel e uma prova disso é o que ocorre com o Judiciário, onde mulheres juízas recebem 10% a menos que os colegas juízes exercendo a mesma função e tendo feito o mesmo concurso”, exemplificou.
Machismo X sexismo
A representante do Dieese lembrou que a discussão não é meramente conceitual, uma vez que a remuneração contempla todos os benefícios, inclusive os de ascensão profissional, que compõem os ganhos de um profissional e que, é nesse local, onde organizações diversas praticam o machismo e o sexismo estrutural contra as mulheres. “A iniciativa da lei é importante, mas insuficiente para alcançar todas as mulheres brasileiras, especialmente aquelas que estão na informalidade”, destacou.
Para ilustrar o debate, Ana citou as diferenças salariais nas profissões que envolvem o cuidado, onde a diferença salarial entre homens e mulheres chega a alcançar 32%.
Mediando as falas, a professora e pesquisadora Petilda Vasquez destacou o perigo da romantização da sobrecarga de trabalho feminino, salientando que toda admiração e respeito social são medidos pelo sofrimento que aquela mulher é capaz de suportar. “Ainda tem gestor público que diz que o magistério ou a enfermagem, por exemplo, são missões e precisam ser feitas por amor, quase uma continuação do cuidado familiar”, exemplificou.
A juíza Adriana Manta fez questão de lembrar que todas essas microagressões servem para calar as mulheres, mantendo-as no lugar social a elas destinado.
Por fim, a superintendente Fátima Freire agradeceu a presença da plateia e disse que o ato serviria para abrir um canal permanente de debates sobre as questões relacionadas às mulheres e ao universo do trabalho.
Além das palestras e debates, o evento disponibilizou uma série de serviços gratuitos de saúde e bem-estar para as participantes.