Na última terça-feira, 2 de abril, Jorge Ramos foi à sede do Sinjorba, na Rua Chile, levar sua obra para o acervo da Biblioteca do Jornalista Baiano. Foi um dos últimos atos em vida de Jorginho, antes de passar para o outro lado do caminho, dois dias depois, na quinta-feira, 4 de abril, vítima de infarto enquanto fazia hidroginástica.
O Sinjorba, do qual foi presidente, era uma de suas casas, onde praticava seus melhores dons: a agregação, a solidariedade e o coletivo em detrimento do individual, entre outros. Atributos que também legou à Associação Bahiana de Imprensa (ABI) e ao Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB).
Foi de Jorge Ramos a inspiração pra batizar, no próximo dia 16 de abril, o nome da sala 301, do Edf. Bráulio Xavier – sede do Sinjorba -, com o nome do jornalista Heron de Alencar, um dos fundadores e primeiro presidente da instituição. Nessa sua última ida à Casa dos Jornalistas, Jorginho cedeu para a Biblioteca o livro “Universidade & Região & Alienação Cultural”, onde Heron, ainda na década de 1960, defendia a regionalização da universidade pública.
Jorge Ramos nasceu em 22 de abril de 1955, em Ipirá (BA), mas passou a infância no distrito de Sambaíba, em Itapicuru, norte da Bahia. Na adolescência, mudou-se para a Cachoeira, no Recôncavo, onde conheceu sua amada Aninha, com quem teve dois filhos: Diego e Desirée.
Possuía notável senso de humor e adorava pregar peças nos amigos. Nesta sua última visita ao Sinjorba, gravou um vídeo de cerca de 10 minutos, onde contou a sua trajetória na mídia baiana, notadamente nas redações de TV, emprestando o seu talento às emissoras TV Band, TV Bahia, TV Santa Cruz (Itabuna), TVE e, no exterior, à TPA – Televisão Pública de Angola. Atuou como professor nas faculdades de Comunicação da UFBA, Dois de Julho e Baiana de Turismo. Foi também subsecretário de Comunicação de Salvador.
Para a Biblioteca do Jornalista Baiano, Jorginho entregou “O Semeador de Orquestras – História de um Maestro Abolicionista”, de 2011, apresentando a biografia do músico baiano Manuel Tranquilino Bastos (1850-1935), que deixou um belíssimo acervo de mais de 700 composições e criou seis filarmônicas pelo Recôncavo baiano. Além de artista, Tranquilino era um lutador contra a escravidão, líder espírita, homeopata e vegetariano. Jornalista, escreveu a favor do abolicionismo e contra a intolerância religiosa e o racismo. Em seus artigos, antecipou em algumas décadas temas como a defesa do meio ambiente e dos direitos humanos.
Além dessa obra, já consta também na Biblioteca do Jornalista Baiano a “Coleção Bicentenário do Dois de Julho”, do selo ALBA Cultural, da Assembleia Legislativa da Bahia, produzida e editada por Jorge Ramos e pelo também jornalista Paulo Roberto Bina.